segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Hidrelétricas no Vale do Ivaí podem mudar paisagem

O outrora piscoso Rio Ivaí e que divide ao meio a região centro-norte do Estado, mais conhecida como “Vale do Ivaí”, pode estar próximo de sofrer profundas mudanças, com barragens, represamento de águas e alagamentos de extensas áreas agricultáveis. Por enquanto, tudo está apenas em estudo, mas existe sim a possibilidade concreta de o “sertão virar mar”, como já diziam Sá e Guarabira nos versos da sua célebre música “Sobradinho”, que surgiu com a polêmica construção da hidrelétrica – que leva o mesmo nome - no Rio São Francisco.

Depois de muitas brigas que ganharam os tribunais, em função da construção da Usina Hidrelétrica Mauá no Rio Tibagi, agora o Rio Ivaí se transforma no novo alvo de grandes empreiteiras nacionais e até multinacionais. O cenário, com técnicos e engenheiros a campo, fazendo medições, avaliações de vazão e de solos, e até de custo de terras, deixa em polvorosa os agricultores da região, notadamente, os ribeirinhos.
Em São Pedro do Ivaí, por iniciativa do Padre Zenildo Megiatto e do agricultor Halim Abil Russ Filho, já foi deflagrada uma mobilização dos produtores rurais contra os projetos de aproveitamento energético do Rio Ivaí, que tem estudos autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
A prefeita de São Pedro, Regina Della Rosa, se diz surpresa com os comentários sobre hidrelétricas no Rio Ivaí. “Até agora não fomos comunicados de nada a respeito disso, mas temos informações de que técnicos estiveram na região, fazendo estudos e medições”, comenta ela.
Nos próximos dias a prefeita pretende buscar informações oficiais sobre o tema e propor uma discussão mais ampla, no âmbito da Associação dos Municípios do Vale do Ivaí, a Amuvi.
O agricultor João Magri, dono de uma fazenda de 55 alqueires, junto ao Rio Ivaí, avalia que as hidrelétricas podem ser úteis para outras partes do Brasil, “mas irão causar muito prejuízo e transtorno na região”. Ele lembra que foi acionado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para recompor uma longa faixa de mata ciliar, junto ao Ivaí. “Agora que está tudo formado, surge essa possibilidade de tudo ser inundado”, lamenta Magri.
Ordalvo Rosseto, que está radicado na região há 60 anos, fica com os olhos marejados ao imaginar que a propriedade da família pode ficar submersa. “Não queremos isso aqui na região e já fizemos até uma reunião como Padre Zenildo, para discutir os nossos direitos”, diz o agricultor.

ESTUDOS EM 30 ANOS - Na década de 80 o potencial do Ivaí já era levantado pela Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel). Na época, tais estudos constataram a possibilidade de se construir até seis barragens ao longo do rio, com capacidade final de 886 megawatts de potência instalada.
Durante 2011, especialistas realizaram levantamentos do potencial energético do Rio Ivaí, em vários trechos do rio. Relatórios conclusivos já estão de posse da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão responsável pelos leilões para a distribuição de concessões de novas usinas hidrelétricas no País. A Copel não participa nessa nova etapa dos estudos.
O potencial energético do Rio Ivaí, apurado na década de 80 pela Copel, é mais que o dobro do apresentado pela Usina Mauá, que deve começar a operar ainda neste ano no Rio Tibagi, e que tem potência instalada de 363 megawatts, suficiente para abastecer uma cidade de um milhão de habitantes. Na região da divisa entre os municípios de Ortigueira e Telêmaco Borba deve ser alagada uma área de cerca de 80 quilômetros quadrados.
A produção de novos estudos no Rio Ivaí comprova que o Paraná continua no foco do setor energético para futuras hidrelétricas, mesmo sendo um estado superavitário na produção de energia elétrica. Nesse momento, a energia seria distribuída para abastecer outras unidades da federação.
É o mesmo destino da energia da Usina Mauá, construída pelo Consórcio Cruzeiro do Sul (Copel e Eletrosul), e que irá vender sua produção ao sistema nacional de distribuição de energia elétrica.


Fonte: TnOnline

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