quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O homem azul

Gosto de consultório médico pela razão mais prosaica: as revistas à disposição nas salas de espera. Quanto mais velhas, melhor. Com exceção das especializadas em medicina, colocadas à disposição pelos médicos canguinhas, a gente se transporta ao tempo de uma semana, mês, ano que passou, e tem viva a sensação de transitoriedade. Alguém disse ontem uma frase que causou polêmica e hoje já não assusta... o mundo se movimenta à toa, e eu digo isso sem moralismo, apenas por constatação pura e simples. No entanto, uma noticiazinha quase ao pé de página, diminuta, me chamou a atenção pelo ineditismo da situação.
Existe, em algum país que não lembro, um homem azul. Por ter feito uso tópico de um remédio - provavelmente azul - a fim de curar uma dermatite, e sem consultar o médico - o sujeito se tornou azul. Da cor a que os poetas tanto se referem quando querem remeter a algo celestial, repousante, encantatório, plácido.
Imagino o Sr. Azul acordando, à sua volta a esposa admirada e os filhos embevecidos por privarem da companhia de alguém de cor tão mágica e eivada de poesia. Ele não faz por menos, dá aos entes queridos um tanto do seu carinho e azuleza, toma o café da manhã e vai para o trabalho. Mas no que trabalha o Sr. Azul? Não importa, ele continua espalhando poesia e azul, agora entre os colegas. Nas ruas da cidade onde mora, os passantes o cumprimentam sorridentes, e cada um sai um pouquinho melhorado após o encontro rápido, porém eficiente, afinal o azul apazigua e nos faz serenos, arejados. A cor azul, conseguida inadvertidamente, lhe dará fama, e ele será admirado no mundo inteiro.
Aqui no Brasil, Roberto Carlos, que ama o azul, provavelmente quererá conhecer o possuidor de tão singular tez e, claro, fará uma canção, diferente de tudo que já fez, mas com a ternura que lhe é própria. E o homem azul deverá vir ao Brasil, visitará favelas, se engajará em projetos sociais, conhecerá o presidente deste e de outros países até que, em todo o mundo, se instaure a revolução azul, uma revolução distinta das outras, menos viciada em casuísmos, mais simples e, ao mesmo tempo, ciente da complexidade das relações entre os homens, o homem e os bichos, o homem e o meio. O homem azul não deixará de contribuir para, portanto, o recrudescimento do aquecimento global através de uma campanha única, pois será protagonizada por ele, ser único e azul.

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