Em carta dirigida aos funcionários e colaboradores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes, que pediu demissão do cargo nesta quinta-feira (17), afirma que, após a fraude no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o ambiente de trabalho no instituto “foi muito deteriorado”.
Ele diz ainda que todas as mudanças propostas para criar um novo exame foram feitas a “contento”, mas que, "quase por ironia", foi ocorrer um problema justamente na etapa que não tinha sofrido nenhuma mudança, que era a “etapa de execução, sob responsabilidade do consórcio licitado", o que, segundo Fernandes, "não exime o Inep da responsabilidade pelo ocorrido”.
Ele diz ainda que todas as mudanças propostas para criar um novo exame foram feitas a “contento”, mas que, "quase por ironia", foi ocorrer um problema justamente na etapa que não tinha sofrido nenhuma mudança, que era a “etapa de execução, sob responsabilidade do consórcio licitado", o que, segundo Fernandes, "não exime o Inep da responsabilidade pelo ocorrido”.
O cargo foi colocado à disposição do ministro da Educação, Fernando Haddad, nesta quinta-feira. O nome do novo presidente do instituto será anunciado na próxima segunda-feira.
“Aos funcionários e colaboradores do INEP
Quando aceitei dirigir o INEP, sabia que tal responsabilidade seria passageira. Pois bem, chegou o momento de me despedir de vocês e retomar minhas atividades na Universidade de São Paulo.
Gostaria muito de deixar o INEP em um momento menos complicado do que o atual, mas, infelizmente, nem tudo pode ser do jeito que queremos. No entanto, tenho certeza que os tempos difíceis que temos vivido desde o furto da prova do ENEM logo passarão e que o Instituto reencontrará a tranqüilidade necessária para seguir cumprindo sua missão que, sem dúvida, é de fundamental importância para a educação de nosso país.
Quando aceitei dirigir o INEP, sabia que tal responsabilidade seria passageira. Pois bem, chegou o momento de me despedir de vocês e retomar minhas atividades na Universidade de São Paulo.
Gostaria muito de deixar o INEP em um momento menos complicado do que o atual, mas, infelizmente, nem tudo pode ser do jeito que queremos. No entanto, tenho certeza que os tempos difíceis que temos vivido desde o furto da prova do ENEM logo passarão e que o Instituto reencontrará a tranqüilidade necessária para seguir cumprindo sua missão que, sem dúvida, é de fundamental importância para a educação de nosso país.
Nos últimos quatro anos fui completamente absorvido pelo trabalho no INEP. Foi impossível não me deixar seduzir pelos desafios que iam sendo propostos, pela relevância e, por que não, pela beleza do trabalho desenvolvido pelo Instituto. Nesse processo tive a felicidade de interagir com diversos servidores e colaboradores altamente motivados e dedicados, o que fazia o trabalho parecer bem mais leve do que de fato era.
Não é uma tarefa fácil julgar o próprio trabalho, pois há sempre o risco de demandarmos mais do que, de fato, merecemos. Ainda assim, creio que as realizações do INEP nesses anos foram das mais importantes, superando, em muito, eventuais problemas e desacertos que possam ter ocorrido.
Nesse período observamos a consolidação das avaliações educacionais no Brasil, e é inegável o papel do INEP nesse processo. Além de se consolidar, as avaliações foram expandidas para além de seu objetivo tradicional de diagnóstico dos sistemas educacionais e colocadas como um dos pilares da política educacional do Ministério da Educação. A definição de metas, tanto para o país quanto para cada sistema e escola em particular, com base no IDEB, tem sido apresentada como exemplo em fóruns internacionais.
As estatísticas educacionais foram também aprimoradas. O Censo da Educação Básica coleta agora informações de alunos, professores e diretores, e o mesmo ocorrerá, em breve, na educação superior. No plano institucional o INEP conquistou uma demanda antiga de possuir uma carreira própria, além de contar com uma sede compatível com o trabalho do órgão.
Nesse percurso tivemos também nossos tropeços. Problemas surgiram, falhas foram detectadas e enfrentadas. Aliás, é papel de qualquer gestão identificar e superar problemas. Isso é especialmente verdade em um órgão que apresente a expansão de atividades como a observada no INEP. Quando novas funções e atividades são incorporadas, processos que antes não davam mostras de fragilidades podem começar a dar sinais de saturação. Nesse sentido, o INEP, na medida em que expandiu suas atividades, passou por reestruturações com o objetivo de adaptar o órgão às novas demandas.
Entretanto, nenhum problema por nós enfrentado nesses últimos quatro anos se compara, em termos de gravidade, ao furto da prova do ENEM e ao conseqüente adiamento do exame. Na minha opinião, em grande parte pelo fato de o Novo ENEM ser um projeto estratégico para a educação brasileira, em torno do qual foram geradas enormes expectativas.
Creio que todas as mudanças que nos propusemos a fazer no Enem foram realizadas a contento. A matriz do exame foi refeita (tendo como base a matriz do ENCCEJA), cerca de 2.000 itens foram construídos e pré-testados, uma prova foi elaborada e a proposta de adotar a Teoria de Resposta ao Item (TRI) foi bem recebida. Quase por ironia, o problema ocorreu justamente na etapa do processo que não sofreu qualquer alteração - etapa de execução, sob responsabilidade do consórcio licitado -, o que evidentemente não exime o INEP da responsabilidade pelo ocorrido.
É preciso aprender com os sucessos e com os insucessos e, na minha opinião, o vazamento do ENEM e as conseqüências decorrentes apontam para a necessidade de se rever os processos de contratação de empresas para a aplicação do exame. É preciso garantir uma aplicação eficiente, segura e, evidentemente, de acordo com a legislação vigente. Isso já vem sendo discutido e tenho certeza que os procedimentos evoluirão.
O fato é que o ambiente de trabalho no INEP, após a não realização do ENEM em outubro, foi muito deteriorado. Era preciso refazer o exame de forma segura e em tempo recorde, e ainda manter em andamento todos os demais processos, como a Prova Brasil, ENADE, Educacenso etc. Tudo isso sob muita pressão, pois as cobranças eram inevitáveis. Nesse quadro, a expectativa era que, após a realização do ENEM no início de dezembro, o ambiente se acalmaria e o INEP ganharia fôlego para aprofundar as reflexões acerca de todo esse processo, promovendo as reestruturações consideradas necessárias. Infelizmente, não foi isso que ocorreu.
O adiamento da prova trouxe como conseqüência uma vigilância mais acirrada por parte da Imprensa, no cumprimento pleno de seu papel na sociedade.
Elevada abstenção, opiniões de que as questões de prova estavam mais distantes das propostas pelo Novo ENEM e problemas localizados, inevitáveis em um exame dessa dimensão, foram noticiados pela mídia. Erros como a divulgação de gabaritos com inconsistência foram interpretados como exemplos de descaso e descontrole. É inegável que a imagem do INEP foi bastante abalada e eu, como presidente do órgão, não tenho como me eximir da responsabilidade de todo o ocorrido.
Assim sendo, ponderei junto ao Ministro da Educação que minha saída da presidência do INEP seria oportuna. Um novo presidente poderia dirimir com menos dificuldade as desconfianças que recaem sobre o Instituto neste momento delicado. Após longa conversa, definimos que a mudança ocorreria ainda antes do final deste ano.
É preciso enfatizar que meu afastamento é uma decisão amadurecida, com o único objetivo de preservar o INEP. E que dado o atual quadro, não posso dizer que saio feliz, mas saio tranqüilo. Tranqüilo por ter a certeza de que me dediquei ao máximo ao INEP e à educação do país. Procurei sempre o diálogo franco e cordial com todos, inclusive com aqueles que discordavam das políticas adotadas pelo Instituto. Nunca permiti que questões políticas conduzissem as ações do INEP e sempre enfatizei o caráter técnico do órgão, estimulando a reflexão sobre aspectos mais conceituais, referentes ao que deveríamos medir na educação.
Tormentas não duram para sempre e tenho certeza que em breve o INEP estará navegando em águas mais calmas, podendo realizar com dignidade e competência sua importante missão. Afinal, o INEP é muito maior que esse triste episódio.
Por fim, gostaria de expressar minha gratidão pelo apoio com o qual sempre contei, e dizer que tenho muito orgulho de ter trabalhado com vocês. (Informações Site G1)
Não é uma tarefa fácil julgar o próprio trabalho, pois há sempre o risco de demandarmos mais do que, de fato, merecemos. Ainda assim, creio que as realizações do INEP nesses anos foram das mais importantes, superando, em muito, eventuais problemas e desacertos que possam ter ocorrido.
Nesse período observamos a consolidação das avaliações educacionais no Brasil, e é inegável o papel do INEP nesse processo. Além de se consolidar, as avaliações foram expandidas para além de seu objetivo tradicional de diagnóstico dos sistemas educacionais e colocadas como um dos pilares da política educacional do Ministério da Educação. A definição de metas, tanto para o país quanto para cada sistema e escola em particular, com base no IDEB, tem sido apresentada como exemplo em fóruns internacionais.
As estatísticas educacionais foram também aprimoradas. O Censo da Educação Básica coleta agora informações de alunos, professores e diretores, e o mesmo ocorrerá, em breve, na educação superior. No plano institucional o INEP conquistou uma demanda antiga de possuir uma carreira própria, além de contar com uma sede compatível com o trabalho do órgão.
Nesse percurso tivemos também nossos tropeços. Problemas surgiram, falhas foram detectadas e enfrentadas. Aliás, é papel de qualquer gestão identificar e superar problemas. Isso é especialmente verdade em um órgão que apresente a expansão de atividades como a observada no INEP. Quando novas funções e atividades são incorporadas, processos que antes não davam mostras de fragilidades podem começar a dar sinais de saturação. Nesse sentido, o INEP, na medida em que expandiu suas atividades, passou por reestruturações com o objetivo de adaptar o órgão às novas demandas.
Entretanto, nenhum problema por nós enfrentado nesses últimos quatro anos se compara, em termos de gravidade, ao furto da prova do ENEM e ao conseqüente adiamento do exame. Na minha opinião, em grande parte pelo fato de o Novo ENEM ser um projeto estratégico para a educação brasileira, em torno do qual foram geradas enormes expectativas.
Creio que todas as mudanças que nos propusemos a fazer no Enem foram realizadas a contento. A matriz do exame foi refeita (tendo como base a matriz do ENCCEJA), cerca de 2.000 itens foram construídos e pré-testados, uma prova foi elaborada e a proposta de adotar a Teoria de Resposta ao Item (TRI) foi bem recebida. Quase por ironia, o problema ocorreu justamente na etapa do processo que não sofreu qualquer alteração - etapa de execução, sob responsabilidade do consórcio licitado -, o que evidentemente não exime o INEP da responsabilidade pelo ocorrido.
É preciso aprender com os sucessos e com os insucessos e, na minha opinião, o vazamento do ENEM e as conseqüências decorrentes apontam para a necessidade de se rever os processos de contratação de empresas para a aplicação do exame. É preciso garantir uma aplicação eficiente, segura e, evidentemente, de acordo com a legislação vigente. Isso já vem sendo discutido e tenho certeza que os procedimentos evoluirão.
O fato é que o ambiente de trabalho no INEP, após a não realização do ENEM em outubro, foi muito deteriorado. Era preciso refazer o exame de forma segura e em tempo recorde, e ainda manter em andamento todos os demais processos, como a Prova Brasil, ENADE, Educacenso etc. Tudo isso sob muita pressão, pois as cobranças eram inevitáveis. Nesse quadro, a expectativa era que, após a realização do ENEM no início de dezembro, o ambiente se acalmaria e o INEP ganharia fôlego para aprofundar as reflexões acerca de todo esse processo, promovendo as reestruturações consideradas necessárias. Infelizmente, não foi isso que ocorreu.
O adiamento da prova trouxe como conseqüência uma vigilância mais acirrada por parte da Imprensa, no cumprimento pleno de seu papel na sociedade.
Elevada abstenção, opiniões de que as questões de prova estavam mais distantes das propostas pelo Novo ENEM e problemas localizados, inevitáveis em um exame dessa dimensão, foram noticiados pela mídia. Erros como a divulgação de gabaritos com inconsistência foram interpretados como exemplos de descaso e descontrole. É inegável que a imagem do INEP foi bastante abalada e eu, como presidente do órgão, não tenho como me eximir da responsabilidade de todo o ocorrido.
Assim sendo, ponderei junto ao Ministro da Educação que minha saída da presidência do INEP seria oportuna. Um novo presidente poderia dirimir com menos dificuldade as desconfianças que recaem sobre o Instituto neste momento delicado. Após longa conversa, definimos que a mudança ocorreria ainda antes do final deste ano.
É preciso enfatizar que meu afastamento é uma decisão amadurecida, com o único objetivo de preservar o INEP. E que dado o atual quadro, não posso dizer que saio feliz, mas saio tranqüilo. Tranqüilo por ter a certeza de que me dediquei ao máximo ao INEP e à educação do país. Procurei sempre o diálogo franco e cordial com todos, inclusive com aqueles que discordavam das políticas adotadas pelo Instituto. Nunca permiti que questões políticas conduzissem as ações do INEP e sempre enfatizei o caráter técnico do órgão, estimulando a reflexão sobre aspectos mais conceituais, referentes ao que deveríamos medir na educação.
Tormentas não duram para sempre e tenho certeza que em breve o INEP estará navegando em águas mais calmas, podendo realizar com dignidade e competência sua importante missão. Afinal, o INEP é muito maior que esse triste episódio.
Por fim, gostaria de expressar minha gratidão pelo apoio com o qual sempre contei, e dizer que tenho muito orgulho de ter trabalhado com vocês. (Informações Site G1)
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